No projeto Esquina, a Educação Física e o Cinema se encontram

 A esquina é um espaço democrático, de encontros, de diversidade, de liberdade.  A partir desta perspectiva a professora da EEFD/UFRJ, Angela Brêtas, conduz o grupo Esquina – Cidade, Lazer e Animação Cultural, que vem desenvolvendo diversas atividades para o público interno e externo a EEFD.

O grupo iniciou o ano de 2010 com o Ciclo de Cinema e Infância, segue organizando o Digestivo Cinematográfico e está se estruturando para começar o projeto intitulado Cinema para donas-de-casa da Maré.  Além de Angela, cinco monitores e três bolsistas de extensão trabalham no Esquina.

O objetivo principal do grupo é intervir na sociedade a partir de temáticas significativas, por meio do lazer e especialmente do cinema, superando paradigmas da cultura dominante e criando uma contraposição a ela:

- A gente acredita que a cultura é um espaço de tensões e rico de mudanças também. Nosso objetivo não é negar a cultura dominante somente, mas de alguma maneira se contrapor a ela em alguns aspectos. O cinema permite discutir a cultura e o lazer, trazendo outra visão de mundo, outro modo de encarar a vida. Por meio do cinema, você tem contato com outras culturas, outras pessoas, outras histórias – explicou a coordenadora Angela Brêtas.

A relação do projeto com a educação física ocorre, principalmente, pela questão do lazer. Para o Esquina, o acesso ao lazer é um direito garantido pela Constituição e tão importante quanto o acesso à saúde, educação e alimentação:

- Primeiro de tudo, somos educadores, professores de educação física. Segundo, nossa área de atuação é o lazer. Terceiro, a gente acha que a linguagem cinematográfica é muito apaixonante e é uma importante dimensão da cultura; então, trabalhamos com cinema, com lazer e no âmbito da cultura. A nossa perspectiva da educação física não passa pela atividade corporal e quando atuamos com o lazer, trabalhamos mais com as dimensões estéticas – resumiu a professora.

Entretanto, o lazer é frequentemente esquecido ou considerado supérfluo, principalmente pelas camadas mais pobres da população. Para mudar esse entendimento, o projeto trabalha com dois conceitos principais: a autonomia lúdica e o deslocamento lúdico. O primeiro significa poder escolher o que fazer nos momentos de lazer, e o segundo se refere ao deslocamento físico para essas atividades. O Esquina propõe projetos que pretendem aumentar a autonomia, diminuindo ou facilitando, muitas vezes, o deslocamento. Dessa forma, o objetivo é permitir que o acesso à cultura e ao lazer seja mais democrático:

- Se você tem uma vida dura, você poderá ter pouco acesso a algumas oportunidades e experiências de lazer que seriam extremamente benéficas. Então, a gente pensa que o cinema pode ser um espaço bacana para você discutir, conhecer novas coisas e até mesmo para desarrumar aquilo que você conhece. Percebemos que quando você amplia a sua visão de mundo, sua vida fica mais rica, não apenas em termos financeiros, mas, principalmente, em termos culturais – analisou a professora Angela.

Dentre as atividades do grupo, o Ciclo de Cinema e Infância é uma das mais conhecidas. Ele foi realizado em 2007 no Fórum de Ciência e Cultura da UFRJ, em 2008 no Sesc do Engenho de Dentro e no primeiro semestre deste ano no Auditório Maria Lenk, localizado na EEFD. O Ciclo tem recebido boas críticas e procura atender, a cada ano, locais onde haja uma demanda sobre a discussão desses assuntos.

Outra atividade bastante popular do Esquina é o Digestivo Cinematográfico. Durante o primeiro semestre de 2010, quinzenalmente, às quartas-feiras, curtas-metragens foram exibidos na hora do almoço, próximo à Cantina da EEFD, permitindo que a comunidade acadêmica tivesse acesso a produções pouco divulgadas, mas de alta qualidade. Atualmente, a equipe do Esquina está tentando, com diversos produtores de curtas, construir um acervo maior, que permita a expansão do Digestivo.

A atividade mais recente do projeto, no entanto, é o “Cinema para donas-de-casa da Maré: a produção de sentidos e de prazer” que foi contemplado com o Edital EXTPESQ 2010 da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (FAPERJ). A professora Angela nos contou como surgiu a ideia dessa atividade:

- A Maré é uma das comunidades mais abastecidas por projetos no Rio, mas uma boa parte deles é voltado para crianças, jovens e idosos. As mulheres ainda ficam um pouco carentes de atividades inclusivas. No projeto que desenvolvemos em um CIEP da Maré no ano passado, víamos uma oferta grande de atividades para os jovens, enquanto para as mães nem tanto.

Dos projetos anteriores, como o realizado com estudantes do CIEP Professor Cesar Pernetta, na Maré, ficaram as boas lembranças. Lá, o Esquina exibiu curtas e longas-metragens e desenvolveu oficinas de cinema e fotografia com os alunos, permitindo que eles passassem da função de receptores passivos para produtores de cultura. Segundo a professora Angela, isso contribuiu muito para a elevação da autoestima dos adolescentes.

Além das oficinas, os bolsistas e monitores do Esquina levaram os estudantes para conhecerem os principais centros culturais do Rio. Em momentos como esse, a bolsista Andréia Vieira sentiu a sensação de dever cumprido:

- Uma vez que fomos ao Centro Cultural Banco do Brasil e uma das meninas virou para mim e perguntou: ‘Podemos voltar aqui outra hora? Gostei muito daqui, posso trazer minha mãe também?’. Isso me marcou muito – contou a bolsista.

Desde 2008, quando foi criado, o Esquina já conseguiu três menções honrosas nos Congressos de Extensão da UFRJ. Os próximos objetivos do projeto são: estender o Digestivo Cinematográfico para outros lugares e outros horários, permitir a construção de um acervo de curtas para a atividade e acessível à comunidade acadêmica, produzir o Ciclo de Cinema e Infância do ano que vem, e elaborar um seminário teórico em parceria com o Grupo de Pesquisa em Cinema e Dança (PECDAN) da EEFD/UFRJ. Para que esses objetivos se concretizem, vontade é o que não falta para a equipe do Esquina.

Serviço:
Para participar e/ou saber mais sobre o Projeto Esquina, procure o Departamento de Ginástica da EEFD/UFRJ ou veja mais Informações.

Foto: Grupo Esquina- ESQUINA no CIEP 326 - César Pernetta - 29 /nov /2008